Uma das suposições mais importantes no design do Windows 8 vem de observações feitas pela Microsoft de como as pessoas usam toque em smartphones e tablets. A empresa entendeu claramente que o toque é maneira chave com que as pessoas interagem de forma tão natural com as telas em seus diversos dispositivos móveis.
No entanto, as pessoas se adaptaram às telas sensíveis ao toque de modo tão rápido pois o dedo é a melhor opção para navegar no conteúdo em uma tela pequena, como em smartphones e tablets. Ali não há espaço para trackpad ou mouse, e o toque é considerado a melhor forma de navegação no momento. Claro que futuramente as interfaces em telas pequenas também terão o uso de voz e gestos, mas o toque continuará sendo a principal forma de entrada e navegação por um longo tempo.
Por outro lado, há décadas os PCs e notebooks utilizam telas maiores e usam teclados, mouses e trackpads. Parece que a lógica da Microsoft para o Windows 8 tem sido que se toque é bom para smartphones e tablets, então também é bom para PCs e notebooks. No entanto, pesquisadores de ergonomia e estudiosos da cinesiologia discordam totalmente desta visão.
A síndrome do braço de gorila
“Gorilla Arm” é o termo usado para descrever o que acontece quando as pessoas tentam usar essas interfaces na posição vertical por um período de tempo prolongado. A chamada síndrome do braço de gorila é o equivalente da síndrome do túnel do carpo. De acordo com os estudiosos da matéria, o braço começa a ficar dolorido e pesado, e o operador se parece com um gorila enquanto estiver usando a tela sensível ao toque devido à fadiga de postura, e depois sente-se o próprio gorila – afinal o seu braço quer (literalmente) cair.
Por outro lado, o uso prolongado de touchscreen em tablets, smartphones e alguns e-readers não apresentam este inconveniente ergonômico, pois você pode segurar a tela firmemente com as mãos e tem a liberdade para mudar entre orientações horizontais, verticais e diagonais. A utilização de telas sensíveis ao toque exige atenção e coordenação do corpo humano, pois a posição do braço, olhos mão e postura varia de acordo com o dispositivo e uso. Isso é evidente ao segurar um smartphone ou tablet quando você está de pé, sentado, usando uma mão, usando ambas, etc.
Basta utilizar um PC ou notebook por algumas horas para observar que toque não é adequado para o posicionamento preciso do cursor, especialmente em planilhas ou documentos onde a precisão do cursor do mouse é crucial para o seu uso.
Então por que Microsoft apressou uma nova interface de usuário para o mercado de PC, se os usuários de PCs estavam satisfeitos com a interface que já tinham? E por que será que Microsoft não se concentrou numa introdução gradual ao toque utilizando algum tipo de trackpad inteligente que poderia facilitar a iniciação das pessoas com o uso do toque no desktop?
A resposta à primeira questão reside no desejo da Microsoft de se diferenciar e saltar à frente no mercado, fazendo do toque o ponto central para o futuro dos PCs. Eu suspeito que a Microsoft não queria apenas usar o toque como um diferencial, mas era preciso ir contra a concorrência e tentar retomar uma posição de empresa líder em matéria de inovação no desenvolvimento de software de sistemas operacionais do mundo desktop e notebook.
A resposta à segunda questão é mais difícil de deduzir, mas pelo que se ouve dos OEMs, a Microsoft estava tão entusiasmada com a ideia de uma interface de sistema operacional inovador baseado em touchscreen que a idéia de reforçar trackpads com gestos foi uma reflexão tardia. Os fabricantes de trackpad pressionaram duramente para que a Microsoft prestasse atenção ao que a Apple tinha feito com o Magic Trackpad, mas não foram feitas especificações de gestos para os fabricantes de trackpad no começo do desenvolvimento do Windows 8.
Rumores entre os fornecedores indicam que os gestos do trackpad iriam imitar gestos touchscreen e a sua implementação no novo sistema operacional da Microsoft atrasaria o seu lançamento.
As telas de toque em PCs e notebooks acabaram gerando um aumento no custo de fabricação dos notebooks e tablets no final do ano passado, quando o mercado de PCs já passava por uma forte retração de demanda na época. A Microsoft deveria ter investido mais tempo criando trackpads mais amigáveis ao toque adicionando recursos como os utilizados pela Apple no Magic Trackpad.
Adicionar telas sensíveis ao toque em PCs e notebooks não é uma coisa ruim, mas o seu custo adicional não justifica os benefícios fornecidos por este método alternativo de entrada. A teoria é que se as pessoas utilizam uma interface gráfica em notebooks e desktops, elas também vão querer utilizá-la em tablets e smartphones, mas até o momento isso não se tornou realidade para a maioria das pessoas.
Forçar novos PCs com Windows 8 a usarem tela sensível ao toque custou muito caro à Microsoft e seus parceiros por conta da redução da demanda por PCs em um mercado já pressionado pelos tablets. Será interessante ver se as alterações introduzidas no Windows 8.1 vão transformá-lo no grande sucesso que a Microsoft e seus parceiros esperam.
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